Debate de Encerramento de Agricultura e Arquitectura

Abastecimento Alimentar: dos dois lados
organizado e moderado por Mariana Sanchez Salvador
Programa
17:00 Apresentação
17:15 — Convidados
Jorge Gaspar
Carla Amado Gomes
Henrique Pereira dos Santos
Intervalo
18:30 — Convidados
Maria do Rosário Oliveira
Samuel Niza
Rita Folgosa
Aquilo que comemos é um dos mais fortes factores de transformação do espaço, moldando paisagens e estruturas arquitectónicas que cruzaram diferentes épocas e múltiplas escalas. A agricultura posiciona-se no centro das estruturas políticas e económicas, das interações comunitárias e da gestão do território — foi, afinal, a razão pela qual as cidades surgiram, numa interacção milenar que permitiu o desenvolvimento da própria civilização. Através da comida, celebra-se a geografia e as suas potencialidades, a história é incorporada em matéria e em cultura, e criam-se elos entre pessoas de diferentes gerações, origens culturais e rendimentos. A alimentação é um território comum.
Contudo, os actuais sistemas alimentares urbanos são um dos principais impulsionadores da destruição ambiental, alterando o uso do solo, reduzindo a biodiversidade, utilizando e poluindo os recursos hídricos, e emitindo uma quantidade significativa de gases com efeito de estufa. Por outro lado, também as cidades — o principal habitat humano, hoje — colocam desafios à preservação ambiental e à gestão dos recursos naturais, bem como às dinâmicas económicas e sociais que lhes estão subjacentes. Contudo, concentram-se nelas os maiores recursos intelectuais e económicos, a abertura a novos comportamentos e o poder político, detendo um papel-chave para o futuro.
A interdependência entre o urbano e o rural é significativamente mais longa do que o período que assistiu ao seu afastamento. Assim, num contexto mundial de urbanização crescente, de alteração de dietas e modos de vida, agravado pelas alterações climáticas, urge, então, repensar a interacção entre a cidade e o seu entorno, o campo, não como duas realidades antagónicas, mas segundo uma dinâmica de complementaridade, na qual poderá residir o maior potencial de transformação e fazer face aos actuais desafios planetários.
Ligando passado e futuro, tradição e inovação, poderá estar na interrelação entre cidades e produção alimentar o mote para um futuro mais equilibrado e enriquecedor, fazendo face aos desafios do futuro?
Debate
Parte 1
Cidade e campo evoluíram em conjunto. Os recursos agrícolas dos hinterlands influenciaram a localização das cidades, a forma como se desenvolveram, a dimensão que alçaram, as relações físicas e comerciais que mantinham com a sua região. As cidades e os seus habitantes impactaram na paisagem de territórios próximos e longínquos. Com os processos de industrialização, assistiu-se a um afastamento físico e conceptual entre estas realidades. Transformou-se a própria relação do ser humano com o mundo natural, traduzida em novas atitudes, escritos e obras, e até documentos legislativos.
A primeira parte deste debate debruçar-se-á sobre esta evolução conjunta de duas realidades complementares, e a sua situação presente, questionando que caminhos se poderão abrir para o futuro.
Parte 2
Com a alteração da relação mantida entre a cidade e o seu entorno produtivo, transformou-se o próprio metabolismo urbano, traduzido em fluxos lineares de materiais, energia e nutrientes que impactam os sistemas globais. Assistimos a uma expansão urbana sem precedentes e à transformação das próprias lógicas de organização interna, processos ainda em desenvolvimento. Simultaneamente, coloca-se em causa a própria capacidade de assegurar a alimentação das populações urbanas, e que custos — económicos, ambientais e sociais — implicarão para o planeta.
Nesta segunda parte do debate, discutir-se-ão os processos que desencadearam estas transformações e com que desafios — e soluções — as cidades terão de lidar no futuro.
- • Jovens e Adultos